Fragmentos

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terça-feira, fevereiro 25, 2014


Um dia



“Claro que ela ainda não tem um namorado, mas não se importa com isso. Algumas vezes, muito ocasionalmente, digamos às quatro horas da tarde de um domigo chuvoso, Emma se sente em pânico e quase não consegue respirar com a solidão. Uma ou duas vezes se surpreende tirando o telefone do gancho para verificar se está funcionando. Às vezes pensa como seria bom ser despertada por um telefonema no meio da noite: “Pegue um táxi agora mesmo”, ou “preciso encontrar com você, nós precisamos conversar”. Mas na maior parte do tempo se sente como uma personagem de um romance de Muriel Spark – independente, aficionada por livros, inteligente e secretamente romântica. Aos vinte e sente anos, Emma Morley tem um diploma com duas menções honrosas, em inglês e história, uma cama nova, um apartamento de dois cômodos em Earls Court, muitos bons amigos e uma pós graduação em educação. Se for bem na entrevista de hoje, vai conseguir um emprego para dar aula de inglês e dramaturgia, assuntos que conhece e adora. Está prestes a iniciar uma nova carreira como professora e finalmente, finalmente, existe alguma ordem em sua vida.

- Um dia, David Nicholls
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domingo, julho 14, 2013


Sou louco por você





“Chega. Estou fora das lembranças. Do passado. Mas também estou perdido. Cedo ou tarde, o que deixamos para trás nos alcança. E as coisas mais estúpidas, quando você está apaixonado, relembra como as mais bonitas. Porque sua simplicidade não tem comparação. E me dá vontade de gritar. Neste silêncio que machuca. Chega. Deixe-me. Ponha tudo de novo no lugar. Assim, feche, duas voltas de chave. No fundo do coração, ali, naquele canto. Naquele jardim. Algumas flores, um pouco de sombra e depois dor. Ponha-os ali, bem escondidos, por favor, onde não doam, onde ninguém os possa ver. Onde você não os possa ver. Isso. Enterrados de novo. Agora está melhor. Muito melhor.”


Sou louco por você, de Federico Moccia


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sábado, janeiro 05, 2013


A coberta de lã

- Fabrício Carpinejar


Não é um jantar iluminado, não é o cinema de mãos dadas, não é sentar na praça observando os aviões recortando as nuvens enquanto as crianças buscam enrolar as correntes do balanço no arco com pulos cada vez mais altos. 
Não é o medo de perdê-la para outro homem. Nem o medo de me perder para a infância. O amor se resolve na banalidade. São os cílios, os farelos, os botões, os brincos, os cabelos que não enxergamos cair no chão. São as quedas mudas, as gentilezas brandas, o costume silencioso de seguir procurando um ao outro mesmo depois do casamento. 
Minha mãe, por exemplo, antes fazia a benção em minha testa quando pequeno, nas saídas de madrugada para escola. Hoje ela faz questão de abrir e fechar o portão ao partir de sua casa. Tenho o controle, mas ela não me permite. Apertar o botão vermelho é seu jeito de continuar mantendo o sinal da cruz. Agora no rosto da estrada. Com as grades levantando lentamente a água sagrada da chuva. 
Sei que você me ama quando deito no sofá para assistir televisão. Estou sozinho, desmantelado, nem escuto o que vejo, pouso em um canal, estável, deitando a cabeça no encosto duro. A altura desajeitada, imensa, mal cabendo naquele caixote de espuma. Naquele engradado de molas. As pernas balançando perto do abajur. 
Não conversamos, suspiro sem cópia carbono. É nesse momento em que não estamos juntos que nos amamos. Porque não a vejo provando que me ama, nem me vejo confirmando que a amo. 
Apago mais pelo cansaço do que pelo desejo. Vacilo as pálpebras algumas vezes até desistir. Tento comentar notícias, mas guardo para amanhã. Não tomei banho, não escovei os dentes, Sentei um pouco para respirar e fiquei. Acabei de chegar do trabalho, das aulas que permaneço de pé, talvez pela ansiedade de abraçar as palavras. 
Não me acorda, não me empurra a cumprir horários. Me deixa ali. Até amanhecer. 
Não duvido que muitos pensem que me abandonou para desfrutar os dois lados da cama. E ler tranquila, longe da minha insistência, não precisando explicar a história do livro. 
Pareço um morto. Um morto que pode nascer de novo. Um morto obediente. Um morto crédulo. 
O morto só será de uma mulher quando ela o velar em vida. Tenho certeza disso. Feliz da viúva que pode dizer: meu morto! Sem ter que dividi-lo. Chorando, absoluta, o reinado de sua dor. 
Na dor, não queremos dividir, queremos não competir com mais ninguém. A morte é a única liberdade para sofrer. É um suicídio desperdiçá-la. 
E me acordo assustado, procurando fixar o horário e o dia da semana. Olhos em remela, boca em ressaca. Seca. 
Vejo que estou amorosamente acomodado. Diferente do estado em que adormeci. 
Alguém pôs um travesseiro, alguém retirou meus sapatos, alguém me livrou do cinto. Alguém colocou uma coberta de lã para não tremer com as janelas. 
Esse cobertor, não há dúvida, ainda é seu corpo. 


*Crônica extraída do livro: Mulher Perdigueira, de Fabrício Carpinejar
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Amar é água


Olhe bem para mim porque isso que vê não é uma só pessoa. Me olhe com atenção porque aqui estão todas as pessoas que me amaram e as que alguma vez amei.
Elas me fizeram quem sou. Elas me amaram, me deixaram e me deixaram deixá-las. Elas me arrastaram por todos os estágios do coração e, graças a elas, hoje conheço bem os quatro elementos da matéria afetiva: apaixonar-se, estar apaixonado, querer e amar.
Apaixonar-se é fogo. Um processo que tudo queima e tudo consome, ainda mais a quem o confessa. Como toda autocombustão, felizmente não dura para sempre. Ninguém sobreviveria muito tempo a essa cegueira, a essa falta de sensatez, a essa cerração. Porém também não saberíamos cicatrizar sem nunca havê-lo sofrido. Quem nunca foi pirômano por amor? Quem nunca fingiu poder controlá-lo? Quem nunca negou o evidente?
Nesta fogueira das banalidades, a madeira que mais queima é a fantasia, as chamas se pintam de vermelho paixão, a fumaça que nos cega resulta extremamente tóxica, e é necessário andar com cuidado pois os ciúmes são suas cinzas.
Estar apaixonar, pelo contrário, é ar. Oxigênio. Inspiração. Encher o coração de sangue novo.Deixá-lo de lado para tomar ar fresco. Abrir suas janelas e deixar que o ar corra, que entre luz. Tudo cheira a novo, a necessário e a conveniente. E nessa distante praia onde se vai parar, se respira melhor.
Como toda brisa, no princípio, é totalmente inofensiva, porém se nos escapa das manos e deixamos que venha rachada, pode estar anunciando tormenta ou inclusive acabar em furacão. Por isso é importante que se levante a um ritmo constante, lindo e suavezinho. Que empurre, sim, porém que não despenteie.
            Querer é terra, possessão e propiedade. Delimitação, fronteira e exclusão. É querer comigo ou querer contra mim. Hectares de desejos mesquinhos e egoístas. Por isso é perigoso querer muito e sem controle, porque aquilo que queres, cedo ou tarde, te acabará possuindo.
As cercas são muito freqüentes quando se quer assim. Normas rígidas e controles de segurança, vigilância 24 horas em forma de leis morais e medo, muito medo a perder o que se tem. O que falta a esse tipo de amor é exatamente o que o acabará estrangulando: sua liberdade.
Por isso, amar é água. A combinação estável e perfeita entre a energia do hidrogênio e a vida do oxigênio. Unidos, porém flexíveis. Atrelados, porem adaptáveis.  Em outra palavra, contraditórios. Fluir sem vontade de correr, liberar com intenção de aprisionar, viver o futuro como se acabasse ontem.
Perigos, todos os que possa imaginar: a tensão superficial, que mantêm uma impermeabilidade fictícia; as correntes, que nos podem arrastar sem dar-nos conta para onde não queremos estar; e a temperatura de ebulição, porque ainda que não o pareça, se descuida, isto também pode ferver... e evaporar-se.

Trecho retirado do libro Que la muerte te acompañe de Risto Mejide.
Tradução: Alinee Santos
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sexta-feira, outubro 05, 2012


Friends #6


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Friends #5


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quinta-feira, setembro 20, 2012


Itazura Na Kiss #3


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